terça-feira, 31 de março de 2009

Matando a dor



Hoje a tristeza que sinto não é como chuva de verão, não é passageira. É tempestade.
Não quero ajuda, não quero nada, só quero sentir essa dor. Sim, só por hoje quero sofrer!
Entrei em um boteco qualquer e acendi meu cigarro, aquele amassado no bolso de trás da bermuda mesmo. Sentei no gramado da praça, onde revezava tragos e pensamentos confusos. Eu não queria chorar ali, na rua. Mas foi inevitável. Cada lágrima que caia representava toda a dor que eu ali sentia. Incansáveis e inúmeras.
Só por hoje quero sofrer. Amanhã, não sei.
O cigarro acabou, eu já não tinha mais dinheiro no bolso também. Era melhor ir para casa.
Eram sete chamadas não atendidas no celular, três números diferentes. Hoje eles não podiam me ajudar, mas agradeço por se preocuparem. Essa dor era só minha, de mais ninguém.
Abri a porta do apartamento, a Luna latiu e pulou em meu colo, ela me fez sorrir por um instante. Me fez sorrir, sem nem imaginar como aquilo não se encaixava na cena que seguia. Me olhei no espelho e vi que a maquiagem estava borrada, o rímel desenhou as lágrimas no meu rosto.
Coloquei a banheira para encher.
Lavei o rosto, fiz uma nova maquiagem. Eles não poderiam me ver assim, feia. Peguei o cigarro que estava em cima da mesa de centro, o que eu não havia acabado de fumar antes de sair de casa. Fui para a varanda, acendi, e de olhos fechados senti a brisa da madrugada ao encontro da fumaça quente. A fumaça entrava e saia... a brisa batia, uma lágrima descia.
Coloquei meu CD preferido e ao som de "vento no litoral" passei o perfume mais cheiroso, abri o whisky mais caro, o mesmo que eu estava guardando para uma ocasião especial. A banheira já estava cheia, tomei um Rivotril que estava no armarinho do banheiro, deitei, a água batia em meu pescoço, bebia o whisky, quente, na própria garrafa. Sentia o líquido, quente, descendo em minha garganta.
_ Será que a Luna vai sentir minha falta? Quais serão os comentários ao meu respeito amanhã? Quem chegará primeiro?
...
Só por hoje quero sofrer, Amanhã não sei.

Nenhum comentário: