As minhas melhores amigas

Se existe algo que me incomoda profundamente são aquelas frases feitas de que “todas as mulheres são falsas - não existe amizade verdadeira entre elas - homem é mais leal”. Primeiro porque não curto generalizações, e segundo porque ela não cabe de modo algum ao meu grupo de amizades.

Amar alguém da família é quase que um dever, mas amar um amigo é algo conquistado, dia após dia. Você não olha para ele pela primeira vez e diz: ”Vou te amar para sempre” como uma mãe diz à um filho. Você olha, e pode sentir algo especial ou não, e uma coisa é certa: só o tempo dirá o que vai acontecer.

Para falar sobre elas, é preciso respirar profundo antes, olhar pra dentro da minha alma, do meu coração, e lembrar de tudo aquilo que já passamos juntas. Cada uma em um canto da sala, personalidades, gostos, e sonhos tão diferentes, que até hoje me pergunto o que nos uniu. Destino. E então, dia após dias as peças foram se encaixando, montando aquele quebra-cabeça, e de repente, éramos como uma pessoa só. A sanidade de uma completava a loucura de outra. E surpreendentemente, nós, que sempre nos julgamos tão diferentes, parecíamos tão iguais. Piadas sem graça que só a gente entendia, só a gente ria. E você percebe que existe uma amizade verdadeira quando o outro não precisa falar, você descobre no olhar. E assim foi. Afala já não era a única linguagem entre nós, bastava olhar nos olhos e estava tudo ali.

A levantada de sobrancelha da Amanda. Ela podia estar com o sorriso mais bonito no rosto, o cara tendo certeza que ela estava adorando, mas eu sabiao que ela estava odiando tudo por dentro e falando “sai daqui, seu idiota”.

A boca aberta da Karin, ninguém percebia, achava que ela estava tranqüila, mas eu sabia que quando ela abria a boca daquele jeito, fingindo sorrir, algo de errado estava acontecendo, ela estava constrangida.

A voz fina da Priscila quando fala com alguém, a outra pessoa tendo certeza que está falando com oser mais doce do mundo. Eu conheço cada uma daquelas vozes e sei exatamente quais são suas intenções.

As pistas que a Carol dava quando estava afim de alguém, o jeito de dançar, de falar, de andar. O cara podia não perceber nada, mas eu tinha certeza que ela estava doida por ele.

Seis anos, tanta coisa, tantas histórias, tanto amor. O mais declarado, sem vergonha de dizer que ama, que não consegue viver sem. Sem a menor intenção de provar para ninguém, verdadeiro, tão real que dói.

Dói de ciúmes, dói de saudade, dói de ver tristeza em qualquer uma delas. E me emociono só de escrever. Meus olhos lacrimejam só de lembrar todas vezes que já choramos uma pela outra. O quanto já brigamos e enfrentamos qualquer um para defender a outra. Por elas eu faria tudo de novo, e tenho certeza que elas fariam por mim também.

Certeza. Certeza de que tenho as melhores amigas. Certeza de que posso confiar de olhos fechados. Certeza de que entre nós não há mentira, falsidade, certeza que ninguém irar nos separar. Que homem nenhum é mais importante do que o respeito que sentimos uma pela outra. Certeza de que é mentira quando alguém fala que é impossível ser amiga de uma mulher.

Verdade. Ter a verdade tão presente em nossa amizade é o que me faz acreditar em tudo isso. Saber que por mais seja dolorido, vocês irão me falar, assim como eu falei. Saber que cada detalhe não é esquecido, nada é omitido, muito menos inventado. Mas dito de forma suave, ao ponto de conseguir me deixar bem, mesmo após uma péssima notícia.

Confiança. Confiar que "eles" são só "eles", mas que se forem importantes para uma de nós, será menina para as outras. E se não for importante, a gente divide, e depois fazemos piada e morremos de rir com tudo isso.

Vivemos o hoje, mas sempre que estamos juntas não conseguimos esquecer de tudo que passamos. E quem está por perto fica sem entender o motivo de tanta risada, tanta saudade. Os nossos cinemas, as festas da época da escola, os garotos, as primeiras baladas juntas, as praias, os bares, sentadas no chão do terminal como mendigas (comendo fofura e bebendo água), todas as vezes que fiquei bêbada e elas cuidaram de mim, as poucas vezes que elas ficaram bêbadas e eu cuidei delas, as muitas vezes que eu, mesmo bêbada, cuidava de estranhas no banheiro da balada, da vez que dançamos naquela gaiola (nem gosto de lembrar), quando eu fui expulsa da boate e vocês ficaram p. da vida comigo, deitada no chão da rua de Karin ás 5 da manhã (????), mentirinhas para a mamãe, para o namorado, para o chefe, pulando corda imaginária dentro da balada, fumando escondidas no banheiro, parar na ponte Rio-Niterói só para tirar uma foto, ir para a praia a noite, fazer uma blusa para ir em uma festa (MICO!), pegar o mesmo cara, pegar todos os caras, vomitar, desmaiar, cair, passar a noite no hospital, roubar bebida de estranhos, dançar funk, samba, rock, forró, e pagode (????), chegar da balada com o sol batendo na cara, maquiagem borrada e os pés imundos, comer aquele podrão no fim da noite, ficar no meu quarto falando merda ou filosofando (não é Karin?), criar fotos toscas, chorar por culpa de um babaca, dar abraço em grupo.... Tanta coisa...

Eu amo vocês como amo a mim mesma. E tenho certeza que vocês sentem o mesmo por mim.Obrigada por tudo, obrigada por existirem!